Boneca Abayomi – Prática Pedagógica com a EJA

Angelina Travenzoli
17 de nov.
4 min de leitura

A atividade da boneca Abayomi foi desenvolvida com os estudantes da EJA, em uma proposta que integra cultura afro-brasileira, memória, identidade e práticas de Língua Portuguesa. A ação fez parte das atividades do Dia da Consciência Negra, valorizando saberes ancestrais e fortalecendo discussões sobre resistência, pertencimento e representatividade.

As Abayomi são bonecas de pano tradicionalmente criadas por mulheres negras escravizadas, que rasgavam tiras de suas p

róprias roupas para confeccionar pequenos brinquedos durante as travessias forçadas. Por isso, “abayomi” significa “aquele que traz felicidade” em iorubá. Trabalhar essa história com a EJA foi uma forma de conectar os estudantes a narrativas potentes de luta, afeto e sobrevivência.

No campo da Língua Portuguesa, a prática envolveu leitura de textos informativos sobre a origem das Abayomi, interpretação de trechos históricos, ampliação de vocabulário, produção de pequenos relatos sobre identidade e registro escrito do processo de criação das bonecas. Também foram promovidas rodas de conversa, leitura compartilhada e descrições orais, favorecendo a oralidade e o diálogo respeitoso.

Cada estudante confeccionou sua própria Abayomi utilizando tiras de tecido e nós — mantendo fidelidade à técnica ancestral. Durante o processo, trabalharam descrição, instrução, sequência lógica, adjetivação e vocabulário corporal, além de refletirem sobre identidade, afetividade e ancestralidade. A atividade favoreceu acolhimento, pertencimento e construção coletiva de sentidos.

Objetivos da Prática Pedagógica

Objetivo geral

Desenvolver práticas de leitura, escrita, oralidade e interpretação a partir de um contexto cultural significativo e ao mesmo tempo valorizar a cultura afro-brasileira e promover reflexões sobre o Dia da Consciência Negra.

Objetivos específicos

Ler, compreender e interpretar textos informativos sobre a história e o significado da boneca Abayomi.
Desenvolver o vocabulário relacionado a cultura, identidade, corpo e instruções de montagem.
Produzir textos breves, como relatos, descrições e registros do processo de criação.
Participar de rodas de conversa, expressando ideias com clareza e escutando os colegas.
Seguir a técnica tradicional de confecção da Abayomi, compreendendo sua simbologia e origem.
Refletir sobre o racismo estrutural, resistência cultural e valorização das tradições afro-brasileiras.
Fortalecer vínculos entre os estudantes por meio de uma atividade colaborativa e significativa.
Relacionar práticas culturais com identidade, autoestima e pertencimento.

Competências Gerais da BNCC

CG1 – Conhecimento: Valorizar conhecimentos históricos e culturais, compreendendo as raízes afro-brasileiras da Abayomi.

CG3 – Repertório Cultural: Reconhecer e valorizar manifestações culturais, identitárias e artísticas da população negra.

CG4 – Comunicação: Expressar-se por meio da oralidade, leitura, escrita e linguagem visual durante as etapas da atividade.

CG8 – Autoconhecimento e autocuidado: Reconhecer-se enquanto sujeito histórico, refletindo sobre identidade e ancestralidade.

CG9 – Empatia e cooperação: Incentivar o diálogo, o respeito e a escuta durante as rodas de conversa.

CG10 – Responsabilidade e cidadania: Refletir sobre racismo, resistência e direitos humanos no contexto da Consciência Negra.

Competências Específicas de Língua Portuguesa – BNCC (EF – EJA equivalente)

(LP1) Compreender e utilizar diferentes gêneros textuais em práticas sociais significativas (textos informativos, relatos, descrições).

(LP3) Analisar informações, conceitos e temas presentes em textos sobre cultura afro-brasileira.

(LP4) Desenvolver práticas de oralidade por meio de rodas de conversa, relatos e debates.

(LP5) Produzir textos escritos de forma coerente, coesa e significativa (descrição da boneca, relato pessoal).

(LP7) Estabelecer relações entre linguagem, identidade, diversidade cultural e direitos humanos.

(LP8) Valorizar a pluralidade cultural e linguística que compõe a sociedade brasileira.

Sequência didática

Etapa 1 – Acolhimento e Introdução ao Tema

Tempo: 15 minutos

Conversa inicial sobre o Dia da Consciência Negra e sobre a importância da data.
Pergunta disparadora: “O que vocês sabem sobre a história do povo negro no Brasil?”
Apresentação oral do significado da Abayomi.

Habilidade mobilizada: oralidade, ativação de conhecimentos prévios, escuta sensível.

Etapa 2 – Leitura e Interpretação

Tempo: 20 a 30 minutosAtividades possíveis:

Leitura de texto informativo curto sobre as bonecas Abayomi (origem, simbolismo e contexto histórico).
Discussão mediada:
- Quem eram as mulheres que criavam as Abayomi?
- Por que essa prática era um ato de resistência?
Destacar o significado da palavra “abayomi”: aquele que traz felicidade.

Habilidades da BNCC mobilizadas: LP1, LP3, LP7.

Etapa 3 – Roda de Conversa e Oralidade

Tempo: 20 minutos

Cada estudante compartilha lembranças, histórias ou elementos de identidade que considera importantes.
Reflexão sobre ancestralidade, memória e racismo cotidiano.
Registro de palavras-chave no quadro (vocabulário).

Habilidades: LP4, empatia e comunicação.

Etapa 4 – Confecção da Boneca Abayomi

Tempo: 40 minutosMateriais: tecido preto, tiras de pano, tesoura (se necessário).

Passos guiados:

Distribuir tiras de tecido.
Explicar o método de fazer nós e modelar corpo, cabeça e braços.
Ajudar individualmente quem tiver dificuldade motora.
Enquanto produzem, incentivar a descrição oral do processo.

Conexão com Língua Portuguesa: linguagem instrucional, sequência lógica, vocabulário corporal.

Etapa 5 – Escrita Significativa

Tempo: 20 a 30 minutosOs alunos podem escolher uma das propostas:

Relato pessoal sobre o significado da boneca.
Descrição da boneca que produziram.
Pequeno texto sobre a Consciência Negra.
Registro do processo de criação (passo a passo).

Habilidades: LP5, LP7, repertório cultural.

Etapa 6 – Exposição e Compartilhamento

Tempo: 10 a 15 minutos

Exposição das bonecas em sala.
Cada estudante apresenta o nome que deu à sua Abayomi.
Registro fotográfico (sem identificar rostos, caso publique).

Etapa 7 – Fechamento

Tempo: 10 minutos

Retomar o significado da Abayomi enquanto símbolo de resistência, afeto e ancestralidade.
Reflexão final: “Como a cultura pode ser uma forma de resistência?”